quarta-feira, 22 de junho de 2011

Salvador (2)

Leia ouvindo,

21 de Junho de 2011

04h05min

Enquanto todo mundo dormia, eu arrumava a cama e sussurrava para mim: "Não pode acabar assim".

04h30min

Café tomado, dentes escovados e bolsa pronta. Eu abro a porta e uma ultima vez olho o apartamento e no peito bate a nostalgia dos dias anteriores... O olhar fuzilador e a frase dita no inaudível: "Você trouxe o sol".
Abro os dois portões que me separam do vazio e de repente meu rosto é cortado pelo vento gélido da madrugada... Fraquejo e me pego olhando para cima e me dou conta que no céu limpo as estrelas brilham para mim.

05h00min

O caminho até o ponto de ônibus é regado pelo silêncio e pela angustia de me encontrar só, sinto uma súbita vontade de gritar, mas o mesmo morre em meu peito.
Parece que os últimos dias foram a lembrança de uma vida que nunca existiu, que o casal abraçados não possuíam braços e aquela mão me tocando eram os braços perdidos da Vênus de Millo. Entretanto meu devaneio desaparece com a chegada do Cajazeiras 11/Pituba.

05h15min

O caminho até a rodoviária é tranquilo e barulhento. O hálito dos trabalhadores da madrugada invade meus pulmões e um sorriso idiota brota no meu rosto... Mas ainda não me dei conta que durante 4 dias eu mudei a vida de diversas pessoas, que só meu silêncio e minha presença, fizeram brotar sorrisos e carinhos, além de gestos e palavras que esse blog não irá conhecer.

05h22min

Na chegada a rodoviária noto meu equivoco. Tem uma galera acordada , mas não me permito pensar no assunto e sem delongas caminho para o ônibus e pouco antes de entregar o bilhete de embarque, me lembro do abraço dado naquele lugar, segura a bolsa com mais força e sinto meus dedos formigarem.
Já no ônibus e de olhos fechados sinto saudade, que parece fuzilar meu peito, mas ao invés de abrir os olhos aproveito a sensação e só dessa maneira as lembranças se lançam em meu organismo de forma verdadeira... De dançar Liga da Justiça em um estacionamento, de entrar no Ap. 205, de conversar bêbado até a uma da manhã, de ouvir e de estar junto. Mas a lembrança que mais dura é de um beijo de esquimó do carinho transmitido através da ponta de um nariz...

05h30min

Minha visão embaça e eu noto que lágrimas surgem, mas lágrimas de boas vindas. De trabalho feito.
Sementes foram plantadas e flores foram dadas e tudo que resta agora é vê-las florescer e desabrochar.
E pouco antes de cair no sono o ônibus entra em movimento, vejo os rostos dos últimos dias e é no seu que meu coração se acalma e durmo com a mão agarrada ao papel que agora fez esse texto.

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