sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Chuva

Ele olha para o relógio quase suplicando que o horário da aula esteja em seu fim...

São 19:55.

Mais 25 minutos de uma tortura mental inenarravel ocasionada pelo seu professor de medidas I, os olhos começam lentamente a fechar e ele nota que a noite mal dormida está fazendo efeito em seu organismo. Seus olhos acompanham o movimento lábial do professor e seus ouvidos o ouvem, mas nada compreensível. Em um momento de deslize na fala do ditador ele vê a oportunidade de sair - enfim acontece um momento mágico - enquanto ele se levanta sorrateiramente a porta se abre com um majestoso movimento e se esgueirando em toda a sua pericia, completa o seu objetivo de sair sem ser percebido.
Ele caminha para saída do pavilhão a passos rápidos, mas gentis, com os fones no ouvido ele mal nota o trajeto feito.
O cansaço bate e ele olha pro céu, mas apenas vê chuva, por um momento ele tenta organizar seu raciocínio, mas se dá conta de que nada precisa ser organizado e aos olhares das pessoas na marquise ele é engolido pela chuva.
Já fora da instituição e a caminho de casa, reconhece a musica "Kt-Turnstall (The otherside of the world)", e ao ouvi-la cantar tudo se apresenta numa dimensão simples (como jogar Sonic).
A chuva não é mais intimidadora como minutos antes, mas continua firme como se despeja-se sobre ele toda sua onipotência, mas deixando clara que está ali como amiga.

O caminho da faculdade até em casa é perigoso para ser feito a noite, por isso grupos saem na mesma direção onde a ilusão de que seus integrantes irão se proteger. Mas hoje tudo parece paradoxal.

Não há medo, não há estrelas, não há conversas só ele e a chuva.

Ele sente a água por entre os cabelos e penetrando sobre sua blusa e calça ele nem por um momento pensa em sua mochila cheia de livros e anotações para apresentação do dia seguinte, tudo é apenas simbólico, sem falsas interpretações... é tudo verossímil.

A caminhada é curta, mas a chuva é devastadora, cada parte do seu corpo se sente limpa até mesmo seus pensamentos, e quando há poucos metros de casa ele para - já sem óculos, com o peito encharcado - e olha para cima, por um breve momento a lua sai de dentro da nebulosidade maléfica que a cobria. Por conseguinte tudo sorri.

E ele sabe que nessa noite - mesmo que seja só ela - ele vai poder...



...dormir.


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